Veneza

Não importa onde esteja, o que eu esteja vivendo ou como eu estejae sentindo. Sempre sinto sua falta, mesmo sabendo o quanto de mal você fez para mim. Mesmo sabendo que você não me ama. Ancora ti manco. Ancora voleva sentirti. Você ainda pensa em mim? Não sei exatamente do que sinto falta, acho que até com você sentia falta. Eu não sei.

kintsugi

 Não escrevo aqui desde 2019. Desde antes de você invadir o meu universo. Engraçado, não? Esse espaço nunca pode ter o prazer e o desprazer de "ouvir" falar de você (até agora). São passados 4 anos, tenho quase meus 28 anos, que às vezes considero 26 por causa da pandemia. Ah! Pandemia. Deixa eu explicar um pouco: no início de 2020 (onde achei que finalmente minha vida tinha começado) estourou-se uma pandemia e ficamos presos praticamente dois anos em casa. E eu por algum tempo completamente sozinha. Foi duro, foi traumático e completamente doloroso. Mas voltando ao segundo semestre de 2019 onde perdi total acesso a esse blog, eu conhecia alguém que mudaria minha vida para melhor e para pior. 

É isso que não te falam sobre os amores avassaladores: eles te constroem, te nutrem e te destroem. Depois dele é engraçado pensar que eu já pensei em ter amado alguém. Minha mente fatalista sempre soube que eu não tinha amado. Quer dizer, é óbvio que amei pessoas, as amei profundamente do melhor jeito que eu podia, mas não era amor romântico. Era amor, mas outro tipo de amor. E digo isso no plural porque soa mais bonito, porque amar nesse sentido só amei um e sou eternamente grata e também eternamente culpada por nunca te-lo amado direito, como amei Simão.

Mas bem, onde estávamos? Exato, segundo semestre de 2019: conheci o grande amor da minha vida. Alto, olhos verdes que te hipnotizam sem ter a menor pretensão para tal, italiano. Eu diria a receita pro sucesso fracassado. O fim desse amor (se é que existe fim em amar alguém desse jeito) me matou. Me matou estando viva. Me matou diversas vezes, e acho que continua me matando todo dia. Foram só 2 anos e meio, dois e alguma coisa. Há remédios com validades maiores. Hoje o que me resta são turvas lembranças, pequenos destroços do que foi toda essa tempestade. Pois bem, agora perguntas: mas por quê escrever sobre isso agora, principalmente quando você se prometeu não escrever mais? Muito simples, eu não cumpro as minhas próprias promessas.

Deitada na cama, prestes a dormir, numa casa nova, numa casa que não teria as memórias horríveis que você me fez viver. Vi um video sobre kintsugi que basicamente é uma técnica japonesa de reparar objetos com ouro. E pasme: pensei em você. Não lembro muito bem o porquê, para ser sincera, eu tinha um texto na ponta da língua, mas me tomou imenso tempo tentando descobrir a senha desse blog que confesso que perdi um pouco as palavras. Mas eu diria que é normal, sempre perdia as palavras por você. Porém, vou tentar explicar mais o menos como a minha mente funciona. Desde o término (um pouco mais de um ano e um mês) eu tenho dias, humores e muitos sentimentos. Agora acredito estar na fase melancólica de paz, alguns momentos ainda sinto raiva, sinto magoa, mas mais que tudo eu sinto pena. Pena desse amor todo não poder ser mais vivido, de não ser mais correspondido. Fato é que penso em você de tempos em tempos, de minuto em minuto. Alguns dias doem menos, outros mais e alguns não doem (o que é raro, na verdade, escrevi isso para ficar bonito). Mas digamos que quando visualizo nosso relacionamento, de um jeito simbólico e figurativo, imagino uma taça de vidro que você jogou contra a parede. Você podia ter deixado cair, podia ter esbarrado e te-la rachado. Mas você a jogou na parede. Com isso, volto sobre a técnica japonesa que consiste em reparar objetos com ouro. Uma metáfora muito bonita, por assim dizer. Estava vendo um video sobre isso (e um tutorial de como fazer isso) e me peguei pensando como tudo isso era ainda mais metafórico. Imaginei se um dia nos reencontraríamos, se nos conquistaríamos de novo (apesar deu achar que nunca fui conquistada, se quer amada). Continuei a observar o video, ao contrário do que muitos pensam é um processo paciente, demorado e trabalhoso. Tal qual seria voltar a uma relação que terminou tão mal. Eu sei que eu também te feri. 

Fiquei pensando quantos pedaços poderiam existir da nossa taça, se colando caquinho por caquinho daria certo. A verdade é que, não importa o quanto eu queria que as coisas fossem diferentes, o quanto eu queria que você tivesse agido diferente (e até mesmo eu). Não importa, porque não foi o que aconteceu, não foi o que existiu. Me questiono quanto tempo vou continuar te procurando nas ruas (mesmo que eu saiba que você mora numa ilhazinha na Itália, perto de um vulcão). Quanto tempo vai demorar até que eu faça o kintsugi em mim mesma? 

Mas eu sei, meu leitor fiel e inexistente, eu sei que você espera que eu diga alguma coisa como "o tempo cura tudo", "espero que me sobre amor para amar de novo", "a fila anda", etc, etc... Seria mentira. Seria outra pessoa. Essa escritora quer mais do que tudo que em algum momento os pedaços se colem. Toda vez que o universo me pergunta se quero vê-lo de novo eu acabo respondendo que sim. Por quê? Eu não sei. Que bem me faria ver alguém que me destruiu? Que bem me faria ver alguém que me criou? Meu veneno e meu antidoto. Engraçado não? Eu ainda espero que um dia você me dê respostas, mesmo que a ausência delas agora também seja uma. Tenho esperanças que eu também seja o seu grande amor avassalador, mesmo querendo acreditar que não. Ao mesmo tempo que eu anseio por amar alguém da mesma forma que te amei, eu não quero. Todos esses sentimentos lindos e feios, são só seus. Felizmente ou infelizmente. Eu sei que posso amar de novo, e que talvez seja mais pacifico, mais saudável. Mas nenhum outro olhar vai fazer eu me sentir assim. 

Eu só consigo escrever sobre o que passou. Talvez no futuro, quando eu recuperar a senha desse blog pela milionésima vez, eu tenha descoberto outro tipo de amor. Talvez eu até goste mais desse amor, e ai nem lembre mais de tu. Eu sempre sei. 

Eu sei, eu sei, ninguém quer me ouvir dizer que eu me conheço. Minha terapeuta (que provavelmente será minha única ouvinte) vai tentar me convencer do contrário. Vai falar das caixinhas, das regrinhas que eu coloco em mim mesma. Porém, eu sei quando tenho certeza e essa é uma delas, quer o mundo acredite ou não. Quer você me faça bem ou não. Era tão bonito de espiar viver. Ainda é. 

I would rather go Blind

Te escrevo.

Nunca pensei que te escreveria. De todas as pessoas nunca pensei que você teria a honra ou desgosto de estar aqui. Como a gente escreve de alguém que a gente não saBe se gostou? Eu te dei uma resposta mas sinto que menti, menti e não menti. É difícil. Como é que a gente termina algo que nunca nem existiu?

Fico engasgada. Essa música ironicamente me lembra você: me lembro do dia que a cantei no seu quarto - no seu imenso quarto. Percebi que só teria fim quando tirasse isso tudo do meu sistema. Quando o pouquinho que ainda sinto fosse totalmente queimado e executado. Quando olho o passado é estranho e turvo. Não consigo lembrar em que momento gostei de você, não consigo lembrar com que olhos te namorei de longe. Por isso eu talvez ache que nunca gostei de você. Mas não acho que seria impossível. Mesmo com tudo eu sinto um amor enorme por você, uma admiração e um sensação de peRtencimento. E não digo isso tudo num sentindo romântico, num sentido platônico. Eu só talvez era extremamente apaixonada pela nossa amizade, pela nossa química.

Saber dos seus sentimentos me chocou e me balançou. Acho que te dei uma resposta porque precisava te dar alivio mesmo que você justifique todo o inferno mental que me fez passar dizendo que era pro meu bem, que eu tinha que admitir meus sentimentos. Eu te escrevi "Nunca vou te perdoar, sabendo que o perdoarei" e naquele mesmo dia eu perdoei sabe? Naquele mesmo dia eu já sorria em lembrar da nossa amizade.

A verdade é que eu acho que você seria um ótimo namorado, tudo se encaixaria tão bem de novo que eu simplesmente arranjaria outra desculpa. Porque meus sentimentos são levianos. Lembro de momentos específicos que de alguma forma deixei esses sentimentos embrionários saírem, mas ainda assim não consigo considerar isso gostar. Pro resto do mundo é gostar sim. Mas não consigo.

De certa forma me "arrependi" de te dar uma resposta. Me pareceU a resposta certa no momento, mas agora me pergunto o que de fato eu sinto ou senti.

Acho que eu queria sentir a tristeza da música, acho que eu queria me sentir sem chão, sem palavras. Queria sentir que morreria sem você. E eu não consigo. Será que isso é amor adulto? Será que os sentimentos adultos são assim?

Tem tanta coisa sua que eu queria saber. Por que deixou pro último minuto? Eu não valia o suficiente? Minha amizade nunca seria o suficiente? Será que foi tudo mentira?

Acho que se eu te amasse essas perguntas estariam me perseguindo, mas de alguma forma elas não me perseguem. É estraNho. Eu te disse que estava de coração partido e eu juro naquele momento ele estava despedaçado. Por que agora me sinto completa? Por que ainda me sinto viva?

Sinto saudades, me pergunto quanto tempo esse afastamento vai durar. E penso que se em algum dia nossa amizade voltar se será sempre velada, se sempre será essa grande dúvida. Meu único medo é não ser bem resolvida sobre isso e você ser.

Não me conheço, mas não apreciei o modo que você me forçou a sentir algo que eu nem sei se existiu. Me pergunto se você está bem, se você precisa conversar.

"Você é muito conivente" pois é meu, anjo, eu ainda sou. Mesmo com você fazendo besteira atrás de besteira cá estou preocupada, cá estou eu sentindo sua falta. Não é estranho?

Acho que isso é amor. O da pior espécie: incondicional. E de novo deixo frisado: Não é amor romântico. Vai além é amor pela sua pessoa. Sou eternamente responsável pelo que cativei dentro de você.

Sinto sua falta. Mas sinto que acabou. Eu te machuquei? Me perdoa. Quando viramos estranhos? Por que eu pago pelos seus pecados? Por que você nunca me consulta e decide as coisas por mim? Você me ama tanto a esse ponto? O que eu uma mera mortal, uma garota tão comum te fez? Que feitiço eu pus em você para tal comportamento?

De todas as formas que perdi amigos, essa foi de fato a mais inesperada. Foi a menos doida mas a mais profunda. Não sei explicar direito, não me sinto triste, não me sintO vazia. Só sinto sua falta.

E do fundo do meu coração eu te desejo as coisas mais belas que a vida pode proporcionar. Te desejo os amores mais bonitos as experiências mais excitantes. E espero que dá próxima vez que eu te veja eu possa sair correndo para te abraçar.

Que eu possa dizer: "Bem vindo de volta, meu velho amigo".

Como conseguir sorrir

para uma pessoa que você sabe que está morrendo por dentro?

Se

Teria sido diferente se você estivesse aqui? Se na hora trágica eu fosse a pessoa que te achasse? Teria diferença se fosse eu na ambulância te dizendo "Eu te amo, vai com Deus eu cuido do resto" Eu conseguiria? Teria sido pior? Minha avó estaria se sentindo menos vazia e culpada? Em  todos esses meses ainda não consegui te dizer adeus. Porque aceitar o fato de que tenho que ficar bem significa aceitar a sua morte num todo e te dizer adeus. Então o fato é que eu não quero ficar bem, eu não quero parar de chorar e eu não quero seguir em frente eu acho. Porque quando eu seguir significa uma vida sem você. Teria sido diferente se você ainda vivesse?

Pós Luto

Não há um dia que eu não pense em você. A primeira vez que tive esse pensamento eu acreditei que era um exagero meu, uma coisa que no pós luto (se é que isso existe) se tornaria um pensamento corriqueiro. A verdade é que tem uma certa hora do dia que eu sempre lembro. Algumas vezes vem na hora que acordo, as vezes vem no almoço quando lembro de você almoçando do meu lado. Mais a maioria das vezes eu estou sentada aqui em frente ao computador como passamos nossos últimos dias, conversando enquanto eu fazia os deveres e você falando. Me desculpa estar de costas para você. Me desculpa não ter feito daquelas conversas triviais minha prioridade naqueles últimos dias. Mas sabendo do coração bom que você tem acho que você nem ligou para isso, provavelmente ficou com orgulho de me ver estudando e tentando ser alguém.
A verdade é que todos os dias eu penso em você, na sua voz, no seu cheiro e no seu abraço. Ai mais que saudade. Mas dependendo do dia me dá aquele choque de novo. Você nunca me viu de cabelo curto apesar de ser a primeira a me apoiar, você nunca vai me ver formada. Você nunca vai me ver casando. Você não vai estar no aeroporto quando eu for embora ou quando eu voltar. E eu sei que você seria a primeira a chegar e a última a sair. A verdade que aonde quer que eu vá eu vou te procurar. Aonde você pisou eu vou tentar pisar igual só para que um breve momento eu possa te sentir de novo. Não há um dia que eu não pense como seria com você aqui. Eu sei que é errado e que eu não posso mais me apegar a isso. Mas eu me pergunto quando essa sensação sufocante vai acabar. Quando eu não vou mais pensar em te ligar, ou quando eu não vou entrar em choque quando ver o seu perfil esquecido em algum lugar. Você era um ser humano tão extraordinário que as vezes eu juro que me pergunto se você existiu mesmo, sabia? Graças a Deus eu sei que sim. Mas tia, fica mais cinco minutos comigo? Tia, deita aqui comigo só mais um pouquinho? Vamos ver que filme hoje? Tia, feliz dia das mães. Tia, feliz natal! Feliz aniversário, Tia!!! Eu te amo, Tia. A vida não vai ser difícil sem você porque você me ensinou a ser forte e não fazer das coisas mundanas um das minhas desculpas. Mas Tia, a verdade é que parte do meu mundo nunca mais vai ser o mesmo. Eu vou ser feliz, mas eu sempre vou saber que eu podia ter sido mais se você estivesse comigo. Eu espero que isso mude, afinal de tantas perdas a única coisa que sempre tive certeza é de que você era feliz e completa. Eu não me sinto completa sem você. Pode ser um erro meu, afinal você me ensinou também que não precisamos de alguém para nos sentir completos. Você me ensinou tantas coisas, eu só queria ter mais tempo. Eu só queria ter falado mais o quão importante você era. Eu não tenho remorosos, mas eu queria tanto que você me visse agora. Talvez seja egoísmo meu afinal somos egoístas sem saber. Eu não sei como terminar esse texto ou qualquer outro que eu já escrevi sobre como é viver sem você e talvez por isso o luto nunca acabe porque nunca vou ter poucas palavras para falar de você ou de como é sentir sua falta.

Luto

Quanto tempo faz? Eu nem me lembro mais. Toda vez que eu vejo alguém passando pelo luto eu revivo um pouquinho daquelas emoções. Lembrar de como foi receber uma mensagem dizendo que você já não estava mais aqui. Pensar que agora você se resume a uma caixa de madeira submersa por terra. Eu não sei explicar exatamente o que me dói. Confesso que as vezes eu queria chorar, eu queria sentir toda aquela claustrofobia dos primeiros dias. O desespero de nunca mais te encontrar, a tristeza de não poder me despedir. A diferença daqueles primeiros dias para agora é que eu tinha esperança que você estivesse aqui, eu podia ouvir sua voz. Seu cheiro ainda era fresco na minha memória. A diferença é que eu ainda não tinha me acostumado a uma vida sem você. "Como é que pode?" toda vez eu penso, como é que pode uma vida sem você. Como é que pode não te ouvir falar "Te amo, bebe" sempre que me via? Como é que eu posso passar essa vida sem você? Sem as suas palavras tão sábias? O luto é sempre amargo e lento. Antes de te perder eu acreditava que luto era uma fase, um período. Hoje eu vejo que o luto é um estado de espirito. Não que eu vá ficar triste a todo momento e não que os outros lutos não tenho doido. Mas ainda me pergunto porque me fere tanto todo dia ter que me dar conta que você não está e nunca mais estará aqui.

Será que chamo a vida de injusta? Não, você não me deixaria. Você diria que ela é boa e gentil. Foi tão gentil que te deu mais 14 anos com a gente. Deus me desculpa ser mesquinha e egoísta. Desculpa querer a minha tia só para mim. A vida é gentil e boa, Tia. Mas as vezes parece vazia sem você.